
“Pai, quando eu fizer aniversário, você me dá um celular?”
Por Enéias Laurindo — Bacharel em Marketing | Psicanalista em formação |
Colunista Parceria Positiva | Idealizador do projeto “O Despertar do Pai”
Essa foi a pergunta que um dos meus filhos me fez outro dia, com toda a naturalidade e esperança de uma criança de 7 anos.
Respirei fundo. Sorri. E devolvi com outra pergunta:
— Por que você quer um celular, filho?
Sem titubear, ele respondeu:
— Porque todos os meus amigos têm.
Não há resposta mais sincera — e reveladora — do que essa. Por trás do desejo pelo objeto, está o anseio por pertencimento. Ele quer fazer parte da turma, não ser o “único” sem celular, não ficar à margem do grupo. E quem sou eu para julgá-lo? Nós, adultos, também caímos nessa armadilha o tempo todo, não é?
Mas a paternidade me ensinou uma lição preciosa:
Nem tudo o que meu filho quer é, de fato, o que ele precisa.
Um retrato do meu filho — sem celular
De segunda a sexta, meu filho não tem contato com telas. O único momento em que ele usa um celular é aos fins de semana, por alguns minutos, no aparelho da avó.
Resultado?
• Ele está entre os melhores alunos da sala.
• Lê e interpreta textos com fluidez e clareza.
• Tem uma dicção impecável e ótima capacidade de argumentação.
• Amarra os próprios tênis com destreza.
• É ágil, curioso, criativo — e está plenamente presente.
Esses resultados não são mérito apenas da ausência de celular, claro. Mas o espaço livre de estímulo digital constante permite que o cérebro dele se desenvolva com tempo, com calma, com profundidade.
Criança precisa de tela? Ou de tempo?
A pergunta que ficou ressoando em mim depois daquele diálogo foi:
“Será mesmo que meu filho precisa de um celular… ou será que ele precisa de mim, de conexão, de presença, de afirmação?”
O celular promete acesso, diversão, status.
Mas entrega isolamento, distração e muitas vezes ansiedade.
E o mais grave: ele rouba da infância o que ela tem de mais precioso — o tempo para ser criança.
Não se trata de proibir, mas de educar
Essa coluna não é sobre radicalismo. É sobre consciência.
Não estou aqui para dizer que nenhuma criança pode ter um celular. Mas para convidar você, pai ou mãe, a refletir:
O quanto dessa decisão vem da sua culpa ou pressa? E o quanto vem do que seu filho realmente precisa?
Antes de entregar um smartphone, será que não vale entregar mais tempo de olho no olho?
Antes de ceder à pressão do grupo, será que não vale fortalecer a identidade dele?
O que quero que meu filho aprenda
Quero que meu filho saiba que ele já pertence — à nossa família, à nossa fé, ao amor que temos por ele.
Quero que ele aprenda que ser diferente não é um problema, é um privilégio.
E quero, acima de tudo, que ele saiba que o mais valioso na vida não cabe numa tela.
Talvez você também esteja ouvindo esse pedido por um celular em casa.
Ou talvez esteja prestes a fazer uma escolha por conveniência, cansaço ou medo de ser o “único pai chato”.
Eu entendo. Já estive aí.
Mas lembre-se: educar é mais difícil do que entregar.
Só que a recompensa é infinitamente maior.
Com carinho,
Enéias Laurindo
Bacharel em Marketing | Psicanalista em formação | Colunista Parceria Positiva
Idealizador do projeto “O Despertar do Pai”
Comentários
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Ótima reflexão, Enéias!