
A voz crítica que vive em mim: sabotadores invisíveis
Por Stefani Paes – Psicóloga Clínica, especialista em TCC e Saúde Emocional
Você fala com você como fala com quem ama?
Existe dentro de nós uma voz que muitas vezes ninguém escuta — mas que nos acompanha o tempo inteiro.
É aquela que diz:
“Você não é bom o bastante.”
“Você sempre estraga tudo.”
“Por que você está assim de novo?”
“Você já tentou e falhou. Pra quê tentar de novo?”
Essa é a voz crítica interna, e ela pode ser muito mais poderosa (e cruel) do que qualquer crítica externa.
E o mais assustador? Muitas vezes, a gente nem percebe que está se tratando assim.
Pensamentos sabotadores: os ladrões da autoestima
Esses pensamentos automáticos e distorcidos surgem em segundos. São como flashes de interpretação da realidade — e geralmente vêm carregados de crenças que você formou lá atrás, na infância, em experiências traumáticas, até mesmo de pessoas que falaram que você ‘não ia ser nada’ ou ‘alguém na vida’ ou até em comparações nas redes sociais.
Alguns exemplos clássicos:
“Se eu não for perfeita, ninguém vai me aceitar.”
“Eu preciso agradar todo mundo para ser amado(a).”
“Se eu errar, vão me rejeitar.”
“Meu corpo é inadequado.”
Essas vozes vão minando a sua confiança, sabotando decisões, relacionamentos e até seu autocuidado.
E o pior: você começa a acreditar que elas são verdades absolutas.
A verdade é: você não é o que pensa
Na Terapia Cognitivo-Comportamental, aprendemos que pensamento não é fato.
Mas, se não questionados, os pensamentos se tornam lentes — e você passa a enxergar tudo através deles.
A sua autoestima, seu corpo, seu valor e até sua capacidade são distorcidos por aquilo que você pensa repetidamente.
Como começar a se libertar? O primeiro passo é tomar consciência dessas vozes.
Perceber quando elas surgem, o que dizem e como você se sente depois que elas aparecem.
Exemplo prático:
Você se olha no espelho e pensa: “Nada em mim é bonito.”
Como você se sente? Triste, desanimado(a), sem vontade de se cuidar.
Qual seria uma resposta mais saudável?
“Hoje estou me sentindo diferente, mas isso não define meu valor.”
Reescrever o diálogo interno é como reeducar um músculo que foi treinado a te criticar.
É difícil no início, mas completamente possível com prática e compaixão.
Existe uma citação atribuída a Henry Ford que “Se você pensa que pode ou se pensa que não pode, de qualquer forma você está certo”. Ela enfatiza o poder da mentalidade e da crença em si mesmo no alcance de objetivos. Se você acredita que pode, suas ações e esforços serão direcionados para o sucesso. Se você acredita que não pode, sua falta de confiança provavelmente o impedirá de tentar, confirmando sua crença inicial.
A frase destaca a importância da atitude mental positiva e da autoconfiança no processo de realização. Acreditar em sua capacidade é o primeiro passo para alcançar qualquer objetivo, seja ele pessoal ou profissional.
Em outras palavras, a forma como você percebe suas próprias habilidades e potencialidades tem um impacto direto no seu desempenho e nos resultados que você alcança.
Entender ‘por que me sinto assim?’ – tema da nossa coluna anterior – passa diretamente por reconhecer a existência dessa voz crítica. Ela é uma das raízes que afetam nossas emoções e, como vimos, nossa autoestima, corpo e decisões. O primeiro passo para silenciar esses sabotadores invisíveis não é lutar contra eles, mas sim identificá-los, entender suas origens (muitas vezes ligadas às nossas crenças mais profundas) e, assim, começar a desconstruir seu poder. A liberdade de ser quem você nasceu para ser começa quando você desafia a voz que tenta te limitar.
Experimento terapêutico:
Durante essa semana, tente identificar uma frase crítica que você costuma pensar.
Escreva. Respire. E responda com gentileza, como responderia a alguém que você ama.
O que muda quando você fala com você com mais respeito?
Da próxima vez que a voz crítica surgir, observe-a. Não a julgue, apenas reconheça-a e pergunte: essa voz está me ajudando ou me sabotando? Esse é o ponto de partida para retomar o controle.
Na próxima coluna, continuaremos a explorar ferramentas e estratégias para fortalecer nossa voz interna positiva e construir uma narrativa mais compassiva e verdadeira sobre quem realmente somos. Vamos falar sobre algo poderoso: a relação entre autoestima e corpo — e por que amar a si mesmo não tem nada a ver com aparência.
Até lá, com respeito e verdade.
Stefani Paes.